Cheio de assunto nas madrugadas da Globo, Pedro Bial abriu as portas da sua casa, em São Paulo, para levar debates, reflexões e uma boa dose de alegria ao público do "Conversa com Bial". Com entrevistas on-line, respeitando as recomendações do isolamento social devido à pandemia do coronavírus, o bate-papo está cada vez mais íntimo. "Uma voltagem emocional mais alta", avalia o apresentador, de 61 anos.
Um formato ainda inédito para o jornalista, que esteve à frente de coberturas históricas mundo afora. Ao MEIA HORA, Bial conta como está lidando com o confinamento, os recentes ataques à imprensa e a aventura de ser pai em tempo integral da pequena Dora, de 6 meses, fruto do casamento com a jornalista Maria Prata.
O "Conversa com Bial" ganhou um novo formato, mais intimista, feito de casa. Como está sendo trocar com as pessoas de forma mais simples?
É um elogio dizer que estamos fazendo o programa de uma forma mais simples, porque é assim que ele tem sido percebido. Mas alcançar a simplicidade é um processo muito complexo. A realização do programa, pelo contrário, está muito mais trabalhosa. Talvez a impressão de simplicidade é porque não tem o palco, a plateia e a banda de sua casa... Enfim, é uma ilusão.
Pude notar que as entrevistas ganharam um tom mais emotivo. Tanto para você, quanto para seus convidados. Você teve essa percepção?
Acho que, além do trauma coletivo que o planeta está passando e da terrível pandemia, que virou nossas vidas de cabeça para baixo e deixa todos nós, sim, com as emoções mais à flor da pele, em altos e baixos de estado de espírito muito bruscos e agudos, as relações mediadas eletronicamente tendem a ter uma voltagem emocional mais alta. Ainda não sabemos os efeitos psicológicos desse tipo de troca de impressões e emoções via interfaces eletrônicas. Se levamos muitos anos para entender a profundidade dos efeitos psicológicos da televisão... Desse novo modo de comunicação entende-se ainda muito pouco.
Você teve a oportunidade de fazer grandes coberturas, das mais variadas, na sua vida profissional. Hoje, leva informação de qualidade em paralelo à pandemia. Esse momento é mais um desses desafios da sua carreira?
Tive várias coberturas, realmente variadas. Mas a de hoje não deixa de ser uma cobertura profunda, de um grande evento, um evento mundial. No nosso programa, temos a oportunidade e obrigação de ir além ou abordar de uma forma um pouco diferente do que fazem os telejornais. Trabalhamos a partir da informação de qualidade, mas buscamos a reflexão de uma forma mais detida e mais próxima. Eu diria até mais humana. Estamos fazendo a cobertura da pandemia, mas dando a oportunidade a todos de dar uma respirada, além das oportunidades que podem ser aproveitadas por nós para melhorar e aperfeiçoar a nossa democracia e o nosso jeito de conviver.
Apesar do mundo polarizado que a gente vive, é conversando que a gente se entende? Ou desentende?
Conversando a gente se entende, se desentende... Mas conversando nos aproximamos dos outros e trocamos impressões. É sempre rico ouvirmos do outro porque é o outro que nos conforma e nos dá forma. E é a partir daí, da ideia do outro, que a gente pode chegar a terceiras ideias e visões, a quartas e a quintas... Podemos sair do nosso mundinho restrito e crescer juntos.
Qual o critério que tem usado, neste momento, para selecionar suas conversas?
É sempre o critério refletir o que aparece no interesse público. O que se pode esperar do "Conversa" é de trazer, cada vez mais, pessoas que nos ajudam a nos localizar no mundo e, quem sabe, nos ajudam a orientarmo-nos neste momento de tantas trevas e descaminhos.
Você está com uma criança pequena em casa, né? Acabou de ser papai mais uma vez, com a chegada da Dora. Como tem sido passar a quarentena com um bebê em casa?
Olha, eu consegui tornar alguns aspectos positivos dentro desse quadro majoritariamente negativo da pandemia. Muitas coisas boas andam me acontecendo no plano íntimo. A melhor de todas é conviver de maneira intensa e íntima com as minhas pequeninas, que, na vida normal de antigamente, eu não teria tanto tempo e tanta qualidade de convivência como estou tendo. Isso está sendo um prêmio. Eu ganhei na loteria das emoções e do afeto.
Você é do tipo otimista, que acha que vamos ter ganhos com o fim da pandemia?
Não sou nem otimista, nem pessimista. Eu procuro ser analista. Cada um vai fazer desse momento de reclusão o que de melhor puder. Acho uma grande oportunidade de reexaminar nossas lutas, nossos desejos, o que a gente precisa para viver. Começar a fazer a distinção do que tem valor e o que tem preço. Geralmente, as coisas que têm mais valor não tem preço. Se vai haver ganhos sociais? Eu espero que sim.
A imprensa está sendo atacada, hostilizada e até questionada. Ser jornalista, atualmente, é ser resistente?
Ser jornalista... É bom ser atacado. O jornalista tem que ser atacado mesmo. Quanto mais batem na gente, mais a gente cresce. Somos atacados porque somos absolutamente imprescindíveis. O bom jornalismo é essencial para levarmos a nossa vida.
Queria que você falasse um pouco sobre seu curso de escrita. De onde surgiu a ideia?
Meu curso de escrita já estava feito, já tinha preparado, gravado e produzido ano passado. A oportunidade de lançamento só aconteceu agora. Estou muito orgulhoso, acho que fiz uma coisa de grande honestidade e dividi grande intimidade com meus alunos. Acho que o que tem no curso é algo muito íntimo. Sou franco, me mostro de maneira amiga, próxima, sem máscaras e acho que o pessoal está gostando.
O "Big Brother" nasceu com você aqui no Brasil. E, neste ano, tivemos uma edição de muito sucesso. Você ainda acompanha o programa e sente saudade?
Eu não acompanho mais há alguns anos. Não tenho saudade de fazer, mas tenho muito orgulho de ter feito e gosto de relembrar as coisas que fiz. Achei extraordinária a importância que ganhou o programa nessa edição por causa da pandemia, além do estupendo e inigualável trabalho que foi realizado pelos meus amigos, conseguindo a façanha de colocar o programa no ar e fazer uma edição primorosa.